Destaque Internacional – Informes de Conjuntura – Ano VII – nº 183 – Buenos Aires/Madri – Dezembro 8, 2005 – Responsável Javier González

Eleições na Bolívia: intervencionismo de Lula

* Resulta lamentável a recente interferência do presidente do Brasil nos assuntos internos da Bolívia, apoiando o candidato de esquerda, com suficientes antecedentes para temer pelo futuro desse país altiplânico, no caso de ganhar a presidência

* As esquerdas governantes do Brasil e de outros países, e as que pretendem conquistar eleitoralmente o poder, como é o caso das da Bolívia, precisariam ser mais humildes, reconhecer que também têm pecado original e que deveriam pôr suas barbas, seus mitos, sua ética e suas idéias de molho

1. A poucos dias das eleições presidenciais na Bolívia, o presidente do Brasil, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, interferiu no processo eleitoral do país vizinho qualificando de "mudança extraordinária" para tal nação, com repercussões na América do Sul, uma eventual vitória do líder cocaleiro Evo Morales Aima, do partido Movimento ao Socialismo (MAS), admirador do ditador cubano Fidel Castro e de seu discípulo, o presidente venezuelano Hugo Chávez.

Segundo o Sr. Lula, a eventual vitória de Morales se produzirá em um "momento histórico" da América do Sul, cujo "retrato eleitoral" dos últimos três anos exibe a chegada ao poder de governos de esquerda, o qual estaria permitindo uma América do Sul "realmente voltada para seu povo". Neste contexto de esquerdização continental, o Sr. Lula aproveitou também para qualificar de antecedente "extraordinário" a vitória presidencial de Chávez.

Tais afirmações foram proferidas ante o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, e reproduzidas no web site da Presidência do Brasil (cf. http://www.info.planalto.gov.br/download/discursos/pr964.doc, parágrafos finais).

2. Resulta lamentável essa interferência do presidente do Brasil nos assuntos internos da Bolívia, apoiando um candidato com suficientes antecedentes revolucionários para temer pelo futuro desse país altiplânico, no caso de ganhar a presidência.

Igualmente lamentável é o fato de que não se tenham levantado vozes continentais em defesa dos direitos soberanos da Bolívia, abertamente contundidos. Se, em sentido contrário, o presidente dos Estados Unidos houvesse qualificado de "extraordinária" uma eventual vitória do candidato centro-direitista e partidário da livre iniciativa, Jorge "Tuto" Quiroga – o segundo colocado nas intenções de voto, depois de Morales – as esquerdas continentais e, quem sabe, a própria chancelaria brasileira, teriam rasgado suas roupas alegando uma nova intromissão do "imperialismo" norte-americano. Porém, nada dizem ante esta manifestação de neo-imperialismo lulista.

3. Do contexto das declarações do presidente Lula depreende-se também que os governos de esquerda constituiriam uma garantia de felicidade para suas respectivas nações, porque estariam sinceramente voltadas "para seu povo".

Porém, não é isso o que se está verificando na Venezuela com o governo Chávez que, longe de estar levando a cabo uma administração "extraordinária", na realidade está cubanizando o país a passos acelerados e tem feito aumentar a pobreza, segundo as estatísticas de organismos regionais como o CEPAL, apesar da fabulosa disponibilidade de dinheiro governamental por causa da alta do preço do petróleo.

4. Tampouco é o que se está verificando no Brasil, onde o governante Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual pertence o presidente Lula, restou envolvido em inúmeras acusações de escândalos financeiros e de corrupção. Com isso, escorregaram e até caíram as máscaras de idealistas Robin Hood de esquerda que protegiam várias de suas mais importantes figuras, deixando a descoberto tantos defeitos quanto os dos vulgares "burgueses" que sempre alegaram combater. É importante não perder de vista o que significa em matéria de fiasco para as esquerdas continentais esta crise do Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder, se se consideram as esperanças que haviam depositado em tal partido e no atual presidente, para sair da crise de identidade em que as afundou a queda do muro de Berlim e a debacle soviética.

5. Em vista do anterior, as esquerdas governantes do Brasil e de outros países, e as que pretendem conquistar eleitoralmente o poder, como é o caso das da Bolívia, precisariam ser mais humildes, reconhecer que também têm pecado original e que, em conseqüência, deveriam pôr suas barbas, seus mitos, sua ética e suas idéias de molho.

Tradução: Graça Salgueiro

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