Série Temas Patrulhados (11)

O mito do minifúndio e do fracionamento da terra

O regime salarial no campo, é necessariamente indigno e empobrecedor? Cumpre transformar todo assalariado em sitiante?

Por Adolpho Lindenberg

O progresso econômico dos indivíduos depende de sua capacidade de poupar -- e assim tornar-se um grande, médio ou mini capitalista -- e não necessariamente de sua propriedade sobre terras ou bens imóveis. Infelizmente, em meios católicos inspirados na teologia da libertação se proclama que os lavradores nunca superarão suas condições "miseráveis" de meros assalariados, a não ser que se tornem donos das terras por eles trabalhadas. Será isto verdade?

Regime salarial: necessariamente indigno?

Premissa dogmática que justificaria tal conceituação: o regime salarial no campo é necessariamente indigno e empobrecedor, e, por isso cumpre transformar todo assalariado em sitiante.

Trabalhador e minicapitalismo

Na verdade, porém, a meta correta a ser atingida deve ser a de transformar todo assalariado em um minicapitalista, independentemente do fato de continuar sendo ou não um empregado, proprietário ou não da casa em que mora ou da terra em que trabalha.

Realmente, por que determinar que os recursos amealhados pelo trabalhador sejam obrigatoriamente empregados na aquisição de um sítio ou de uma área a ser plantada, ou de uma casa?

O trabalhador, por acaso, seria um "minus habens", incapaz de escolher o que mais lhe convém?

Boa aplicação da poupança

Por exemplo, se ao invés de adquirir bens imóveis, ele preferir arrendar a terra de que necessita -- à semelhança de muitos imigrantes japoneses de outrora -- e aplicar suas economias na mecanização da lavoura, que mal haverá nisso? Ou, se ao invés de comprar uma casa, preferir morar num imóvel alugado, reservando seus recursos para abrir um pequeno negócio, comprar ações, tornar-se sócio de um amigo, estará agindo contra seus interesses?

Para responder adequadamente a essas perguntas, é importante assinalar que o fator enriquecedor é a poupança e sua boa aplicação, não a propriedade de terras ou de imóveis.

Liberdade de escolher onde aplicar

Convém recordar que essa liberdade das pessoas de poder escolher onde aplicar seus recursos e a de poder variar suas aplicações conforme critérios seus, constituem outras das características do sistema capitalista.

Vezo do dirigismo estatal?

Não será que por trás desse determinismo -- casa própria, terra própria -- esconde-se mal o eterno vezo do dirigismo estatal, sempre pronto a julgar os consumidores e os pobres -- o povão, como hoje se diz -- como sendo inidôneos e incapazes para determinar o que mais lhes convém?

Adolpho Lindenberg é autor do livro "Os católicos e a economia de mercado", em que denuncia uma política com viés esquerdista que censura, marginaliza, "patrulha" ou encobre com um manto de silêncio as opiniões "politicamente incorretas", não afinadas com as ideologias de esquerda.

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