* Pesquisador cubano luta para conseguir visitar o filho de 3 anos

* Estudante não pode ver o filho em Cuba

* Cubano apela ao Brasil para ver o filho

* "Quero ver meu filho"

Junho 27, 2002: O Estado de S. Paulo, São Paulo

Pesquisador cubano luta para conseguir visitar o filho de 3 anos

Bolsista da Unicamp, ele é considerado desertor e não consegue visto para entrar em seu país

Silvana Guaiume

CAMPINAS - Alguns milhares de quilômetros separam Juan López Linares de seu filho de pouco mais de 3 anos. Linares está proibido de visitar o pequeno Juan Paolo porque é considerado um desertor. Cubano, o estudante de pós-doutorado em Física da Universidade Estadual de Campinas tenta autorização para conhecê-lo há mais de dois anos.

Foram três pedidos oficiais ao Consulado de Cuba em São Paulo, todos negados, sob o argumento de "abandono de missão", conforme o bolsista. Ele ainda mantém a cidadania cubana.

Seu visto no Brasil é de pesquisador e Linares, de 31 anos, apenas pode permanecer no País enquanto durar sua bolsa, prevista para ser de seis meses, mas que pode ser prorrogada.

Em Cuba, Juan Paolo vive com a mãe, Ileana Fiallo. O casal morava na Itália, onde o cubano cursava especialização, quando ela ficou grávida. Com a aproximação do fim do curso, Ileana voltou para Cuba, aos sete meses de gravidez. Foi quando Linares recebeu a notícia de que havia obtido a bolsa de estudos de doutorado no Brasil e não voltou ao seu país.

Logo depois do nascimento do filho, Ileana tentou se juntar ao marido, mas foi avisada pelo governo cubano de que "seria quase impossível" deixar o país com a criança. Foi quando ele iniciou as tentativas de visitar o filho, que só conhece por fotos.

Depois de três anos de separação, Linares reconheceu que seu casamento não existe mais. Além dos complicadores burocráticos, sabe que seria difícil convencer a ex-mulher a entregar-lhe a guarda do filho. Mas luta pelo direito de visitá-lo.

O bolsista contou que o governo o trata como "desertor" porque ele dava aulas na Universidade de Havana, emprego que deixou para seguir com a especialização no Brasil, doutorado na Universidade Federal de São Carlos e pós na Unicamp. "Eu sabia que se não voltasse ia ser chamado de traidor."

Linares enviou no começo desta semana uma carta e um e-mail ao ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, pedindo que ele interceda em seu favor.

Criou um site na internet para mobilizar a opinião pública e enviou uma carta ao Comitê Interamericano de Direitos Humanos, denunciando o caso.

Segundo o bolsista, o caminho jurídico é o único possível. Ele se apoiou no artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no qual está determinado que "toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar".

 

Junho 26, 2002: Diario de São Paulo, São Paulo

Estudante não pode ver o filho em Cuba

Juan Liñares é considerado traidor

Plinio Delphino

Considerado traidor da pátria por ter abandonada Cuba por mais de um ano para estudar na Itália e no Brasil, o estudante de Física Juan López Liñares, de 31 anos, está proibido de retornar à terra de Fidel Castro e conhecer o próprio filho, de 3 anos. A angústia do cubano é ainda maior: "Meu filho é cubano e também não pode deixar o país para vir ao Brasil", diz.

Liñares saiu de Cuba, com autorização de ficar fora do país por apenas um ano. Em 97 foi para a Itália, onde cursou pós-mestrado em Física. Durante a estada na Europa, recebeu a visita da mulher, Eliana Fiallo, que ficou grávida de Juan Paolo López Fiallo. O garoto nasceu em Cuba. Liñares, com bolsa de estudos, viajou ao Brasil, em 1999.

Cursou doutorado na Universidade Federal de São Carlos e, atualmente faz pós-doutorado na Unicamp, em Campinas. Há dois anos, ele tenta junto às autoridades cubanas, retornar ao país, sem sucesso, para conhecer o filho. "Negaram três solicitações minhas. Todas verbalmente", explicou.

O estudante explicou que sua situação no Brasil está regularizada. "O problema é que, não sou brasileiro e agora nem cubano. Estou sem pátria. Queria apenas ter o direito de ir e vir, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos", salientou.

Segundo o Ministério da Justiça, caso Liñares peça asilo político ao Brasil, a situação será analisada.

Ele pode até conseguir, mas o ministério não garante que sua família possa sair de Cuba e juntar-se a ele.

Liñares disse que foi considerado desertor do governo porque abandonou o funcionalismo público, mesmo não sendo contratado pela Universidade de Havana, onde era professor de Física para biólogos.

 

Jornal da Tarde, Quinta-feira, 27 de junho de 2002, Diplomacia

Cubano apela ao Brasil para ver o filho

O bolsista Juan López Linares, de 31 anos, deixou a ilha e hoje faz um curso de pós-doutorado em Física na Universidade Estadual de Campinas. Mas foi considerado um desertor pelo governo cubano e proibido de voltar ao país para conhecer o filho Juan Paolo, de três anos, que vive com sua ex-mulher

Alguns milhares de quilômetros separam Juan López Linares de seu filho de três anos. Para ele, porém, é uma distância insuperável. Linares está proibido de visitar o pequeno Juan Paolo porque é considerado um desertor, traidor de sua pátria. Cubano, o estudante de pós-doutorado em Física da Universidade Estadual de Campinas tenta autorização para conhecê-lo há mais de dois anos.

Foram três pedidos oficiais ao Consulado de Cuba em São Paulo, em 2000, 2001 e este ano, todos negados sob o argumento de "abandono de missão", conforme o bolsista. Ele ainda mantém a cidadania cubana, e seu visto no Brasil é de pesquisador. Linares, de 31 anos, só pode permanecer no País enquanto durar sua bolsa de estudos. Ela termina em seis meses, mas pode ser prorrogada.

Em Cuba, Juan Paolo vive com a mãe, Ileana Fiallo. O casal morava na Itália, onde o cubano cursava especialização, na época em que ela ficou grávida.

Com a aproximação do final do curso, Ileana decidiu voltar para Cuba, aos sete meses de gravidez. Foi quando Linares recebeu a notícia de que havia obtido a bolsa de estudos de doutorado no Brasil e não chegou a retornar ao seu país.

Logo depois do nascimento do filho, Ileana tentou se juntar ao marido, mas foi avisada pelo governo cubano de que "seria quase impossível deixar o país com a criança", lembrou o pesquisador. "Cuba tem procedimentos burocráticos complicados com viagens que envolvem crianças", disse. Foi quando tiveram início as tentativas de visitar Juan Paolo, a quem o pai só conhece por fotografias.

Passados pouco mais de três anos de separação, Linares reconheceu que seu casamento não existe mais. Além dos complicadores burocráticos de seu país, ele sabe que seria difícil convencer a ex-mulher a entregar-lhe a guarda do filho. Mas luta pelo direito de visitá-lo quando quiser e puder.

O bolsista contou que o governo o trata como "desertor" porque ele dava aulas na Universidade de Havana, emprego que deixou para seguir com a especialização no Brasil, doutorado na Universidade Federal de São Carlos e pós na Unicamp. "Eu sabia que se não voltasse ia ser chamado de traidor, e todos esses adjetivos que eles usam."

O bolsista decidiu pagar o preço, mas não achou que fosse tão alto. "Só quero o direito de visitar meu filho", disse. Ele lembra que a concessão de vistos em Cuba é muito peculiar. Além do visto do país a ser visitado, o cidadão cubano precisa de autorização para deixar seu país e seu emprego, com prazo para voltar.

 

Bolsista apela a ministério e comitê interamericano

"Não é possível pedir demissão em Cuba, se você sai do emprego, é considerado desertor", conta Linares. Ele tinha autorização para permanecer apenas um ano longe de Cuba e do emprego. Pediu para que o prazo fosse expandido, mas o pedido foi negado. "Não existe paralelo no Hemisfério", lamentou, lembrando que conheceu uma estudante colombiana na Itália.

Ela tinha obtido a bolsa e licença remunerada da empresa onde trabalhava na Colômbia. Assinou um contrato estipulando que, caso desistisse do emprego, o que poderia fazer a qualquer momento, teria que ressarcir em dobro o que a empresa havia investido nela. "Eu gostaria muito que meu problema fosse apenas financeiro", lamentou o pesquisador.

Sem alternativas junto ao governo cubano, Linares está tentando outros caminhos. Enviou no começo desta semana uma carta e um e-mail ao ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, pedindo que ele interceda em seu favor junto ao governo de Cuba. Criou um site na internet para mobilizar a opinião pública e enviou uma carta ao Comitê Interamericano de Direitos Humanos denunciando o caso.

Segundo o bolsista, o caminho jurídico é o único possível, ainda que não tenha advogado. Ele se apoiou no artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no qual está determinado que "toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar".

Linares contou ainda que a Constituição cubana de 1940 tinha um artigo que garantia aos cidadãos o direito de ir e vir, como há na Constituição brasileira, mas ele foi retirado do novo texto.

"É um direito elementar e mínimo. Mas o governo cubano usa isso como controle político", afirma Linares. De acordo com ele, em seu país é preciso autorização até mesmo para comprar um computador. "É uma forma de controlar as pessoas. Você começa a deixar de fazer as coisas e a se autocensurar para não ter de viver pedindo autorizações", alegou.

Linares aguarda agora a resposta do Comitê sobre sua denúncia. A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores confirmou o recebimento do e-mail pelo ministro. Mas informou que o órgão brasileiro não pode interferir na relação do cidadão cubano com o Estado cubano. O Consulado Cubano em São Paulo informou que seus funcionários não concedem entrevistas por telefone.

 

Junho 26, 2002: O Dia, Rio de Janeiro; Jornal de Brasilia e outros 34 jornais de todo o Brasil

"Quero ver meu filho"

Coluna Claudio Humberto / Poder, Política e Bastidores

O cubano Juan López Linares, pós-doutorando do Instituto de Física da Unicamp, escreveu ao chanceler Celso Láfer, pedindo que intervenha junto a Fidel Castro para visitar o pequeno Juan Paolo, que não vê há três anos. Se ele entrar em Cuba não sai, o que contraria a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ele conta seu drama em http://br.geocities.com/jlopezlbr