Editorial do Informativo Operário, No. 74, TFP, São Paulo, 2002

Cuba, o Itamaraty e as chancelarias-Pilatos

A abstenção do representante brasileiro tornou-se incompreensível e inaceitável, diante do drama de 40 anos que afeta a 12 milhões de cubanos aprisionados na ilha-cárcere de Cuba

Em abril, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da ONU, reunida em Genebra, aprovou moção apresentada pelo Uruguai na qual, em virtude das reiteradas violações dos direitos humanos em Cuba, se exige que o regime comunista autorize a entrada no país de um observador da ONU.

Na votação, a abstenção do representante brasileiro tornou-se incompreensível e inaceitável, diante do drama de 40 anos que afeta a 12 milhões de cubanos aprisionados na ilha-cárcere de Cuba. É incompreensível essa posição do governo brasileiro.

Cuba, ironicamente membro de uma Comissão cujo objetivo é defender os direitos humanos, não votou para se condenar a si mesma, e a Líbia e o Sudão, também membros de tal Comissão -regimes "talibânicos" que amparam o terrorismo e perseguem implacavelmente os cristãos- não condenaram o governo cubano. Tampouco surpreendeu que o comuno-talibânico presidente Chávez, da Venezuela, tenha dado ordem a seu embaixador em Genebra, para se solidarizar com o regime do ditador Fidel Castro.

Mas, tal como perguntou antes mesmo da votação o ex-preso político cubano Armando Valladares, em carta aberta ao chanceler brasileiro e a outros chanceleres da América Latina, "como entender que o governo do Brasil -com sua influente chancelaria, o Itamaraty- junto com outras chancelarias, continuem, ano após ano, com uma política própria de Pilatos em relação ao drama cubano, lavando suas mãos com um voto de abstenção?" "Em Genebra, condenar Cuba é uma obrigação de consciência. Abster-se, é fazer o triste papel de Pôncio Pilatos e ficar indelevelmente marcado por seu estigma", concluia Valladares.

Em Cuba, grupos opositores pacíficos fizeram jejuns e orações para que os governos membros da Comissão dos Direitos Humanos não cedessem às pressões de Cuba comunista e tomassem uma atitude coerente com a verdade. Nem sequer esse emocionante clamor de opositores indefesos conseguiu comover as autoridades brasileiras. Nem Deus, nem a História, nem o povo brasileiro esquecerão essa atitude própria de Pilatos.