Pais de Sandra: embaixada cubana no Brasil usa subterfúgios para reter menina em Cuba

Sr. Rodrigo L. Mesquita / Diretor Responsável da Agência Estado

E-mail: RMesquit@agestado.com.br / Fax: (11) 38564611

Presente

Prezado Sr. Diretor,

A Agência Estado de 5 de junho, em despacho de Silvana Guaiume, desde Campinas ("Caso de cubanos é denunciado na OEA"), informa sobre o drama familiar que atravessamos desde há quatro anos: nossa filha Sandra, atualmente com 11 anos de idade, está retida em Cuba, contra nossa vontade, apesar dos numerosos, custosos e humilhantes tramites efetuados, dos quais tivemos o cuidado de guardar a documentação provatória.

Segundo o despacho, o conselheiro de imprensa da embaixada cubana, Juan Loforte, tentou minimizar o episódio, dizendo que a retenção de Sandra "não tem nenhuma finalidade política". Sem embargo, uma carta oficial do Ministério da Indústria Básica de Cuba, de 22-6-2001, a nós dirigida, confessa o temor de que a viagem de nossa filha ao Brasil "possa criar um mal precedente" em relação a outros "profissionais que estudam fora do país"; ou seja, um suposto mal exemplo para outros casais cubanos no exterior, cujo incrível pecado seria solicitar também a presença de seus filhos.

A carta, em clara interferência no direito dos pais de dar aos filhos a educação que acreditam ser mais conveniente para eles, acrescenta que a mudança de Sandra para o Brasil poderia prejudicar a Sandra, "forçada a uma mudança educacional que não é necessária, num meio escolar diferente". Esta inaceitável interferência na prática anula o pátrio poder.

Loforte tenta desviar a atenção do problema fundamental, que é a prolongada, cruel e arbitrária separação de uma menina de seus pais e irmãozinho. E para tal acrescenta subterfúgios sobre uma suposta situação "irregular" nossa, alegando por exemplo que teríamos abandonado a "bolsa" de estudos dada por Cuba, e que por isso deveríamos "regularizar" nossa situação antes de as autoridades cubanas nos entregarem a Sandra. Negamos categóricamente que tenhamos recebido qualquer "bolsa" das autoridades cubanas para vir ao Brasil, elas foram dadas pelas entidades brasileiras CNPq e FAPESP. Essa afirmação do diplomático Loforte é portanto contrária à verdade, e constitui mais uma prova de que suas alegações não passam de um pretexto.

Ainda concedendo, meramente para argumentar, que houvesse algum problema administrativo pendente, seria justo que isso interferisse no direito dos pais de terem a seu lado a seus próprios filhos? Por fim, se houvesse tais supostas irregularidades, por que então as autoridades cubanas não informam disso à chancelaria brasileira, ao invés de guardar prolongado silêncio ante o requerimento desta para que Sandra possa viajar ao Brasil?

Agradecendo a atenção que dispense a esta carta, e à disposição para qualquer esclarecimento que possa acelerar a vinda de Sandra a esta acolhedora nação brasileira, que tantas demonstrações de carinho e solidariedade continua manifestando em relação a nossa família, despedem-se atentamente,

Zaida Jova Aguila & Vicente I. Becerra Sablón

Jd. Proença, Campinas SP, CEP 13026-330

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